as galáxias dançantes que vimos
assombrados diante da velha televisão
foram atualizadas por um novo telescópio
estão mais jovens, próximas, nítidas, iluminadas,
desencobertas, seminuas
três anos que não te vejo daqui da Terra
mas para as galáxias são bilhões de anos
de que tempo e distância ou de que luz é a saudade
perambulante na negra noite interrompida e quase-eterna?
você não tem mais o rosto iluminado pela Lua e pelo Sol
e está e não está a alguns metros de profundidade abaixo
da terra
ainda fincado porém em meu peito e nas estrelas
mais bilhões de outros sereszinhos já te comeram a carne
e lá está a sua ossada com átomos de cálcio de outros
universos
diante de mim e do agora está a incompletude risonha
satisfeita anônima inteira ilimitada que você disse
existir
seu rosto se confundiu como eu previa nas novas imagens
televisivas de um céu que não vemos daqui e que não vimos
mas de que somos raízes por dentro:
eu e você igualados e refeitos de nossos céus
invisíveis sob a pele: implosão
eu e você reuindos novamente face a face na memória
e seu rosto maravilhado entre a fumaça da sala
com as imagens de um obsoleto instrumento terráqueo
na dura caixa te enxergo daqui e de outra outro
deslembrando de quando será a minha vez de constatar como
você a hora ou a des-hora da mesmice pálida e prazerosa
de quando não há mais diferença entre falar e calar
Thiago Lobão - rascunhosdesois.blogspot.com